Logo estaria novamente naquele hospital. Meu irmão sairia dali hoje.
O dia amanheceu sem sol, nublado, nevando, como sempre, triste, iria ver aquele garoto cheio de alegria tendo dificuldade para andar, era uma coisa que não conseguia ver.
- Lembre-se: cuidado para não fazer nada anormal na frente do Rafael, se ele souber vai ficar chocado demais para absorver tudo. – disse minha avó. Não seja uma anormal Liz, haja como você agia antes, relaxe.
Respirei fundo. E sai do carro em direção ao hospital, marchando. Abri a porta automaticamente e entrei. Esperei minha avó falar com a enfermeira e ela nos conduziu até um quarto branco, um pouco abafado, onde estava meu irmão.
-Li-liz? – disse ele gaguejando ao me ver, estava deitado em uma cama de hospital comum onde descansara as pernas, agora inanimadas.
-Rafael! – disse arfando, correndo em sua direção as lágrimas já corriam de meus olhos.
-Oh! Liz! – disse ele chorando também me acolhendo em um abraço. Ficamos ali durante algum tempo até os soluços cessarem.
- Meu Deus Liz! – disse ele me analisado. – Você está tão bem! Sem nenhum arranhão.
- Pois é... – disse revirando os olhos, ele não pode saber, não pode nem desconfiar.
- Como você esta Rafa? – afinal tudo estava novo para ele agora, sem suas pernas ele mudaria muito.
- Bem, estou bem – afirmou ele com sinceridade - e você só teve umas dores nos músculos não é? – Apenas concordei com a cabeça – alguns têm mais sorte que outros, não?
Aleluia! Ele nem desconfia que eu sou anormal!
- É não é? – disse com um pouco de confiança em minha voz. Ele ainda não sabia, mas eu desconfiava que logo iria saber.
- Poxa! Você mudou não é? – você nem imagina o quanto.
- Pois é, as coisas andam meio estranhas... – disse rindo de minha piada irônica, até minha avó me dar uma cotovelada que me fez gemer.
- Vovó, já podemos ir para casa? – disse ele com um tom melancólico como se quisesse dizer: Me tire desse lugar! Por favor! Eu imploro!
- Sim querido, só vista essa roupa – ela o integrou uma mochila com roupas – com ajuda do doutor – ela se virou para encarar o médico que balançou a cabeça positivamente - e depois que te colocarem na cadeira já podemos ir.
Ele suspirou e assentiu. Saímos do quarto branco abafado e seguimos para uma sala de espera.
- Você precisa fingir melhor Liz. – disse minha avó sussurrando em meu ouvido.- se não levará vários tapas e cotoveladas.
- Eu errei uma vez, não vai acontecer de novo, relaxa vó eu só sou humana. – disse sorrindo forçadamente.
- Não é não mocinha, é uma criatura mística, uma lenda, e tem que aprender a mentir melhor! –disse ela rindo de sua piada, ri também.
Alguns minutos se passaram, eu estava fazendo o favor de ficar absolutamente quieta em meu lugar na sala de espera.
- Senhora Marta Rouby e Liz Rouby, Rafael está aqui. – anunciou a enfermeira em voz alta.
Eu e minha avó seguimos até onde Rafael me observava de baixo com os olhinhos brilhando em sua cadeira. Oh meu Deus! Como eu odeio ter que ficar lá olhando aquele pobre garoto me fitando.
- Vamos Rafa? – sugeriu minha avó olhando para ele e se posicionando atrás de sua cadeira.
- Quando você quiser. – disse ele, como devia ser estranho depender muito de uma pessoa, até para andar.
- Você não está achando estranho andar assim? – essa pergunta me escapuliu enquanto nós andávamos em direção a saída.
- Estranho, muito estranho, eu já consigo andar um pouco sozinho, mas me canso rápido, porém logo estarei andando normalmente, mas ainda assim precisarei de ajuda, e especialmente de só uma pessoa - ele me disse me encarando com um olhar maquiavélico – agora você vai fazer quase tudo para mim! Rá-rá!
- Mentira, a vovó vai fazer quase tudo!
- Eu não minha neta, não tenho mais energia para isso, já estou velha – disse ela com sarcasmo.
- Imagina. – disse revirando os olhos. Ah! Que droga! Teria que cuidar de meu irmão quase o tempo todo!
Encarei meu irmão com o olhar mais frio com a imensidão mais negra que conseguir fazer, com a expressão de ‘’Tudo culpa sua’’, o olhar foi tão gelante que seu sorriso desapareceu imediatamente de seu rosto que foi substituído com uma expressão de medo.
- Vó? Podemos ir mais rápido? Por favor? A Liz está me assustando, principalmente que agora ela não olha para lado para encarar meu irmão – disse ele tentando tirar seus olhos dos meus, ri maliciosamente pra ele.
- E como vamos fazer com o Rafa? Ele não pode subir as escadas.
- Não te falei querida? – perguntou minha avó em dúvida, respondei com a cabeça negativamente – Vamos nos mudar!
- Mudar? – arregalei os olhos – Por causa disso? – apontei para meu irmão.
- Sim, ele tem que ter mais liberdade e viver uma vida normal.
- E para onde vamos?
Já estávamos perto do carro descendo a rampa e meu irmão estava calado me observando.
- Para uma casa mais nova, daqui a 5 dias, durante esses dias o Rafa terá que dormir no escritório de seu avô, você tem que me ajudar a tirar tudo de lá e depois vamos sair mais tarde para escolher a decoração e a cor de sua tinta para seu quarto. – ótimo começar tudo de novo, vida nova, quarto novo, agora eu também era assim e tudo tinha que mudar como eu.
- O.k. – concordei já ajudando minha avó a colocar meu irmão no carro.
Minha avó colocou a cadeira no porta-malas e seguiu para sua porta a meu lado, enquanto isso me dedicava a ficar com a maior cara de tédio que pude, olhando os pequenos flocos terem contato com o resto de seus iguais e se tornarem mais uma parte da imensidão branca.
No caminho para casa o silêncio permanecia no carro, mas minha avó rompeu esse curto tempo de paz em minha vida.
- Rafa, está tão quietinho ai. Dormiu? – perguntou minha vó confusa, meu irmão era um tagarela de vez em quando.
- Nada... só estou.... Observando a Liz, ela parece tão... – ele pensou. Anormal? – tão diferente. - Sabia que você tinha razão? Quando dizia ‘’essa aí não é minha irmã, ela é só uma alien de outro planeta. ’’
Não ouve continuação para essa conversa, mas eu sabia que eu tinha razão, ele descobriria logo.
Chegando em casa, minha avó me lembrou de minha obrigação a fazer, mas ela disse que só precisava tirar tudo das gavetas. O.k. Eu dava conta disso, eram só umas 10 gavetas a serem vasculhadas. Quemvocê quer enganar? Isso será chatíssimo!
Estava no escritório revirado de cabeça para baixo tirando toda a papelada, até que achei uma pasta com o nome de meu avô incomum, só que a derrubei e dentro havia anotações e um livro que tinha o título Lendas. Hmmm. Interessante, peguei o livro e comecei a folhear, muitas informações desnecessárias e chatas, até que encontrei o título de um capítulo ‘’Lendas de Zimous’’. Agora sim, com certeza vou ler esse livro. Comecei a ler ‘’Acreditasse que Zimous foram uma espécie mais desenvolvida, que carrega em seus genes os poderes como mover terra, controlar objetos com a mente, ser super-veloz e ágil. Sua pele é quase imperfurável, são semi-imortais e nunca envelhecem assim que descobrem todos os seus poderes...’’
-Liz! – gritou minha avó, eu pulei assustada – Você já terminou? – disse ela vindo em direção ao escritório, guardei o livro rapidamente na pasta e me levantei.
- Sim, quero dizer, quase, falta só essa pilha – disse escondendo a pasta comigo, ela assentiu e foi para a cozinha.
Joguei o resto dos papeis na pilha e corri para meu quarto com a pasta e me tranquei lá. Queria continuar minha interessante leitura. Passei mais algumas páginas e li ‘‘... têm como inimigo natural os Deymants...’’. Deymant? Mais o que é isso? Existem outros aliens não identificados além de mim? Agora queria saber mais sobre Deymants, mas no livro não havia mais nada. Hmmm. Comecei a olhar a papelada, se eu tinha um inimigo natural como ele devia ser? Achei uma folha com o título Deymant escrito por meu avô. ‘’Deymant, inimigo natural do Zimou, Poderes em comparação:
Deymant Zimou
*Controla o ar *Controla a terra
*Confundi mentes *Move objetos com a mente
*Super-forte *Super-rápido
*Ágil *Ágil
Feitos para viver em guerra. ’’
Oh! Eu tinha um inimigo do mal que queria me matar! Porque será que minha avó não falou nada sobre isso? Ora se eu tinha um inimigo eu tinha direito de saber de sua existência! E se alguém no mundo quisesse me matar agora e eu nem tivesse consciência do porque e de quem é essa pessoa? Eu também não ia falar de Deymants com minha avó. Se ela não me falou antes ela tinha um bom motivo, e eu também tinha um para não precisar de uma explicação na hora de ela me dizer o que são Deymants. Agora eu acho que sei de tudo...
-Ah... – disse suspirando me jogando de costa na minha cama.
Toc, toc.
-Posso entrar, querida? – perguntou minha avó.
-Ah... – disse de novo suspirando. Eu não queria nem um pouco me levantar e destrancar a porta. Hmmm. Vou abusar um pouquinho de ser uma alien.
Fechei meus olhos e me concentrei bastante, algumas folhas de papel voaram e finalmente girei a chave e abri a porta. Hmmm. Uma evolução. Logo, logo estarei fazendo coisas mais difíceis.
O olhar de raiva da minha avó me encontrou.
-Liz! Seu irmão esta aqui! – disse ela me olhando com o olhar de desprezo.
- Ah! Qualé? Ele nem pode subir as escadas! Qual o problema? Eu só não estava afim de abrir a porta! – disse me queixando.
- Ta bom, ta bom. Mas não vai se acostumando não, viu? – disse ela me olhando com censura.
- Ok vó...
-Vamos! Levante-se vamos arrumar seu novo quarto! Arrume-se estarei te esperando lá embaixo. – disse ela saindo do meu quarto.
Gemi, mas logo me levantei, vesti uma blusa rosa com uma jaqueta jeans e uma calça azul, coloquei meus tênis e escondi a pasta, desci as escadas com cara de tédio.
-Ora Liz! Vai ser seu quarto novo! – disse ela me incentivando.
-Que emoção... – falei gemendo enquanto abria a porta.
-Tchau Rafa! Já voltamos! – disse ela fechando a porta.
Na loja foi tudo comum, escolhi tudo que queria, escolhi a tinta para pintar uma das paredes do meu quarto, um azul turquesa, compramos um armário e uma estante branca para meu quarto, um laptop para mim, de presente. Já estava quase tudo pronto, o caminhão chegaria amanhã, e hoje tudo novo já estaria lá, depois de amanhã iríamos arrumar todos os móveis, e no penúltimo dia iríamos arrumar as malas, e no último dia iríamos nos mudar, numa quantidade incrivelmente rápida para uma mudança.
Quando chegamos em casa novamente corri para meu quarto e comecei a ler mais sobre Deymants , já havia pessoas, ou aliens, no mundo que queria me matar e eu nem sabia como eles eram.’’Deymants e Zimous tem a forma humana, não há como reconhecer um Deymant ou um Zimou entre os humanos...’’ , hmmm, eles eram humanos, como eu, ta bom, quase humanos.
Bom, já chega por hoje. Você já sabe demais sobre Deymants. Afinal, eu já tinha conhecido algum Deymant? Será que minha avó ou meu avô chegou a conhecer algum Deymant? Acho que não...
-Liz?- era minha avó, o que ela queria? – Liz! Venha jantar. – ah sim, eu preciso de nutrientes para sobreviver.
-Já estou indo! – disse sem interesse.
Me levantei, vesti um pijama bege e coloquei meus chinelos, e desci escada abaixo. E localizei duas figuras conhecidas na cozinha comendo um prato de macarrão, uma delas era uma das minhas, uma Zimou e a outra era um inocente, que tem a missão de vir ao mundo infernizar a vida da pobre garota aqui.
-Oi. – falei pro Rafael, olhei para o escritório, já estava vazio e com uma cama para ele.
-Oi mana. – era incrível como ele conseguia continuar sendo o mesmo sem as pernas e nesse baixo astral todo.
Apenas me sentei e dei uma grande garfada naquele macarrão todo e comecei a engolir.
- Então já sabe qual será o seu quarto? – perguntou meu irmão.
- Hã? Ah! Não sei ainda não. – estava tão desligada que nem percebi o que ele disse direito – Qual é o meu quarto vó?
- Aqui querida. – disse ela apontando em uma planta. Meu quarto era no segundo andar, bem longe do Rafa. Aleluia.
- Ah ta. Que bom que é bem longe do quarto do Rafael. – disse me virando pra ele.
-Aleluia! – respondeu ele sarcasticamente. Ri de sua atitude ser igual a minha afinal éramos irmãos. E voltei a comer meu macarrão.
- Boa noite vó e pra você também Rafa. – disse subindo as escadas.
- Pra você também! – gritaram os dois.
Escondi a pasta e os livros e me deitei, era 24 de Julho e eu Liz uma criatura desconhecida pelo homem não sabia o que fazer.
Hmm. Vou praticar meus poderes. Fechei meus olhos, me concentrei muito, e movi a porta do armário para a frente e fechei, abri minhas gavetas e fechei, tirei os lápis da minha mesa e deixei eles caírem.
Agora sim eu estava cansada, usar meus poderes cansava muito minha mente. Me levantei, fui escovar meus dentes. Sai do banheiro e voltei ao meu quarto. Usei meu poder só mais uma vez para tirar o edredom da cama, e pude desmaiar em minha cama de sono.
O sono rapidamente me dominou e logo já estava acordada. Não sonhei, apenas tive um sono profundo no qual me preocupei apenas em descansar.